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AINDA SOBRE JOÃO DUBRAZ ... , por Francisco Galego


Senhor Presidente:
Revocando(1) ao ponto que me levou a pedir a palavra tenho a honra de paticipar a V.Exa. que vou mandar para a mesa um requerimento de que me fez portador o sr. João Dubraz, digníssimo professor de Latim em Campo Maior (Alemtejo).
Pede este meu amigo e esclarecido professor que, na futura reforma da instrução secundária, ele e os da sua classe, sejam considerados com alguma providência que lhes garanta o futuro e recato das inclemências do presente.(2)
Parecem-me boas as razões que aduz em defesa da sua justiça. Entretanto, como a comissão respectiva é que há-de julgá-la, eu peço a V.Exa que remeta para a comissão esse requerimento e, ouso crer que, à ilustração dos dignos membros que a compõem, não passarão desapercebidos,  os sensatos considerandos do requerente.(3)
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 Testo publicado in, Diário da Câmara dos Senhores Deputados, Lisboa, Sessão do Parlamento de 16 de Fevereiro de 1880. Este texto chegou ao meu conhecimento graças à amabilidade do meu estimável amigo, João Custódio.
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(1) Regressando, ou voltando a ...
(2) Com a sua arguta e esclarecida inteligência, João Dubraz parecia antecipar, de forma premonitória, o que lhe viria a acontecer quinze anos depois: Sendo administrador do concelho de Campo Maior, Cristóvão de Albuquerque Barata, pai de Cristóvão Cardoso Cabral Coutinho de Albuquerque Barata (futuro Visconde de Olivã, que então teria 16 anos), mandou aquele encerrar a sala que cedera a João Dubraz, no edifício dos Paços do Concelho. para aí instalar a sua Aula de Latim, com entrada pela rua Major Talaya. Esta acto pode ser interpretado como represália pelas constantes denúncias que Dubraz fazia nos jornais, dos excessos, das injustiças, das ilegalidades e das arbitrariedades cometidas pelos responsáveias pela administação municipal.
Impedido de exercer a sua profissão em Campo Maior, João Dubraz teve de concorrer a nível nacional, tendo sido colocado em Amarante, no distante Minho. Aí deu o seu último ano de aulas, pois que quando, no fim do ano lectivo, veio de férias a Campo Maior, aqui faleceu, à beira de completar os 75 anos de idade.
3) Não é de estranhar que João Dubraz tenha sido atendido, de forma tão pronta e dedicada nesta sua pretensão, pois que, devido aos livros publicados e às suas colaborações em vários jornais, era bastante conhecido pela intelectualidade de Lisboa, embora  só lá se tivesse deslocado por três vezes e nunca por períodos muito dilatados. Mas tinha aí sinceros amigos que muito o apreciavam. Entre esses distinguia-se o Barão de Barcelinhos, figura notável como escritor, como político e como jurista. O Barão de Barcelinhos,  como o título de Visconde de Ouguela, com que depois foi distinguido indica, tinha fortes ligações a Campo Maior. Ele era um dos que mais divulgava em Lisboa, as obras publicadas por João Dubraz. E foi também um dos que mais acompanhou  João Dubraz na sua luta para que o concelho de Campo Maior não tivesse sido extinto e anexado, como freguesia ao concelho de Elvas, em 1868.

Francisco Galego

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