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A Cimeira Ibérica e os territórios transfronteiriços: adivinham-se tempos de esperança?


No dia de ontem, 14 de março, deu-se início a mais uma Cimeira Ibérica em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, que marca o 34º encontro bilateral entre Portugal e Espanha. O fim do encontro vai ser marcado pela reunião plenária entre os governos de António Costa e o seu homólogo Pedro Sánchez onde “serão assinados mais de uma dezena de memorandos, que abrangem praticamente todas as áreas dos ministros (portugueses) que participam na cimeira” confirmou uma fonte do executivo português à agência Lusa.
Neste abrangente leque de conversações, onde estiveram em evidência temas como o alinhamento europeu e a celebração de José Saramago, encontra-se em destaque a questão da estratégia transfronteiriça, com foco na revitalização de pequenos municípios junto à fronteira.
O alinhamento entre os dois países vizinhos no âmbito da agenda europeia ficou evidenciado no debate acerca das regras fiscais ou de governação económica e da energia, em que ambos se congratulam pela limitação do preço do gás usado para produzir eletricidade e pelo H2MED, o projeto de gasodutos que visa transportar hidrogénio verde (produzido através de energias renováveis) entre Portugal, Espanha e França.
No que toca às estratégias de desenvolvimento nas regiões de fronteira, serão celebrados memorandos de entendimento e declarações de intenções, assunto anteriormente abordado e anunciado na Cimeira da Guarda em 2020. Será elaborada uma agenda cultural comum para estes territórios raianos contemplando mais de 30 atividades, nas quais estão em evidência o projeto das escolas bilingues e interculturais, projetos de revitalização de aldeias que sofrem as consequências do despovoamento e ainda o “campus rural”, iniciativa espanhola que tem como objetivo a realização de estágios curriculares do ensino superior em municípios de menor dimensão. A Estratégia Comum de Desenvolvimento Tranfronteiriço de Portugal e Espanha “tem sido protagonista dos acordos saídos das cimeiras bilaterais”, confirma o jornal Observador que ainda acrescenta que esta estratégia engloba 1.551 freguesias (cerca de 50% do total português e 62% do território nacional e inclui 1.231 municípios espanhóis (17% do território). O programa tem como objetivo “trazer investimento empresarial, inovador e competitivo”, palavras de Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, à agência Lusa.
É de relembrar ainda que, recentemente, foi construída a Plataforma Logística do Sudoeste Europeu em Badajoz que conta já com 11 empresas instaladas, com destaque para a gigante multinacional Amazon, algo que veio mudar significativamente o panorama da região, principalmente de Campo Maior e Elvas, a todos os níveis. Desde a sua conclusão e segundo o site “Badajoz, Capital en la frontera”, a Plataforma tem uma capacidade de 16.500 toneladas por dia, convertendo-a assim numa das áreas logísticas mais importantes da Península Ibérica, e contou com duas fases de desenvolvimento, a primeira destinada ao tráfego de mercadorias e a segunda que visa a construção de caminhos de ferro. As instalações foram criadas com o objetivo de integrarem a linha ferroviária Sines-Évora-Badajoz, que por sua vez, em conjunto com outros corredores farão a ligação aos continentes americano e asiático através do Canal do Panamá.
Adivinham-se tempos de esperança para os territórios da fronteira ibérica, dando-se assim um passo bastante significativo rumo à coesão de territórios que têm vindo a sofrer nas últimas décadas as consequências da centralização litoral.

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