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Bombeiros Voluntários de Campo Maior vivem momentos de crise. Relação entre o Corpo Activo e a Direcção leva à demissão de ambos


A Associação dos Bombeiros Voluntários de Campo Maior, que no decorrer do presente mês de Outubro vai assinalar 68 anos de existência, desde há algum tempo que vive uma situação delicada, no que respeita às relações entre o Corpo Activo e a Direcção.
O Campomaiornews sabe que, em determinados momentos da vida da Associação, a situação se extremou e houve lugar à mediação de algumas autoridades e personalidades para tentar resolver o problema. Num desses momentos, os bombeiros, elementos integrantes do corpo activo, chegaram inclusivamente a colocar a farda e os capacetes à entrada do quartel, em sinal de protesto com a situação.
No entanto a verdade é que, neste momento, a Direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários de Campo Maior "se encontra demissionária desde há três meses", explicou João José Muacho, Presidente da Direcção.
Na conversa que manteve com o Campomaiornews, João Muacho, confirmando a existência "de problemas entre a direcção e o corpo activo", acrescentou que "já devia ter sido convocada uma Assembleia para serem realizadas eleições, o que ainda não aconteceu". Sem querer acrescentar ou tecer mais comentários sobre a situação que se vive na instituição, João José Muacho mostra-se "desiludido com toda esta situação" e espera que tudo se resolva rapidamente "que sejam eleitos novos dirigentes, uma vez que esta instituição tem que continuar a prestar bom serviço à comunidade onde se encontra inserida". Entretanto, e dado que está demissionária, a Direcção encontra-se "apenas a efectuar a gestão corrente da corporação", concluiu João José Muacho.
O Campomaiornews contactou também o Comandante dos Bombeiros, Miguel Carvalho, que, reconhecendo a existência de problemas, confirmou o seu pedido de rescisão enquanto assalariado da Associação e a consequente demissão de Comandante do Corpo Activo dos Soldados da Paz de Campo Maior. "O pedido foi entregue na secretaria da Associação, no passado dia 7 de Setembro. Como legalmente tinha que o fazer com antecedência de 30 dias, acontece que no próximo sábado, dia 7 de Outubro, termino a minha relação com os Bombeiros de Campo Maior", explicou.
Sobre as razões que levaram a esta situação, Miguel Carvalho não quis tecer qualquer comentário nem acrescentar qualquer explicação "por respeito pela instituição". O Comandante demissionário acrescentou ainda que "os Bombeiros Voluntários de Campo Maior são uma instituição que tem muita responsabilidade no seio da comunidade, e merece um enorme respeito por parte de todos". Consciente do trabalho que desenvolveu enquanto fez parte do corpo activo, e enquanto Comandante dos Bombeiros, Miguel Carvalho espera que "a Associação dos Bombeiros ultrapasse os problemas e possa continuar a prestar um bom serviço aos campomaiorenses e à comunidade em geral", concluiu.
Na tentativa de apurar mais alguns elementos que expliquem a origem desta crise, a seguir transcrevemos a publicação de hoje, 4 de Outubro, do semanário "Linhas de Elvas", na qual a origem dos problemas existentes nos Bombeiros é, em parte, explicada pelo pelo Presidente João José Muacho.

"O Comandante dos Bombeiros Voluntários de Campo Maior, Miguel Carvalho, vai demitir-se do cargo até ao final desta semana e o Presidente da Associação Humanitária. João José Muacho, confirma o ambiente "difícil" vivido entre a Direcção e o Comando.
Antes, à redacção do "Linhas" havia chegado a informação de que a Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Campo Maior teria, alegadamente, descontado verbas no salário de alguns elementos por estes não terem 'picarem o ponto' no sistema de assiduidade, instalado no quartel, numa altura em que esses mesmos operacionais se encontravam ao serviço da corporação nos grandes incêndios que assolaram o país de norte a sul.
Em causa estarão valores que correspondem a dezenas ou centenas de euros no salário de pelo menos dois ou três Soldados da Paz, mas o Presidente da Direcção da Associação Humanitária, João José Muacho, contactado pelo nosso jornal, garante que as acusações são "falsas" e explica ao detalhe o que se passa.
O Corpo de Bombeiros de Campo Maior, à semelhança de outras localidades, é constituído por elementos assalariados, que neste caso são em minoria, e não assalariados, que são os voluntários.
Como explica o Presidente da Direcção, os assalariados "têm de picar o ponto" por terem um contrato de trabalho. Na altura dos incêndios formam-se Equipas de Combate a Incêndios, as designadas ECINs, compostas por voluntários e contratados.
"Quando as pessoas são nomeadas pra as ECINs não têm de passar" pelo controlo de assiduidade, o que contrapõe a suspeita levantada. Os elementos nomeados pelo Comandante para as ECINs estão 24 horas no quartel e recebem 45 euros por dia, um valor assegurado pela Autoridade Nacional da Protecção Civil (ANPC) e não pela Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Campo Maior, de acordo com João José Muacho. A ANPC recebe uma listagem com as respectivas equipas. "Nós nunca podíamos descontar porque eles não são obrigados a picar o ponto e estão longe. Quando se encontram nos incêndios têm de permanecer 24 horas no quartel, no sentido de actuarem, no imediato, nalguma ocorrência do género", frisa o Presidente.
João José Muacho reconhece que os "problemas" entre o Comando e esta Direcção surgiram na sequência de um exemplo práctico. "Os assalariados, que têm que picar o ponto, fazem ECINs porque precisam do dinheiro e o que é que acontece? Tiram 15 15 dias de férias (ou o mês de férias) e faz ECINs. Não tem de picar o ponto na mesma porque está de férias, contudo, sei de situações anteriores em que alguns elementos chegavam a não ter férias e faziam os ECINs, picando o ponto, ou seja, estavam em duas situações ao mesmo tempo e a receber por dois lados".
Face a esta situação, a actual direcção tomou uma medida para equilibrar os interesses do bombeiro e da Associação. "Quando isso se verifica, e nós temos necessidade dos bombeiros, se for um assalariado para integrar a equipa de combate a incêndios, mas que já não tem férias, o que acontece é que esse indivíduo, com conhecimento da Direcção, vai para a ECINs. O elemento, na teoria, pica o ponto e está nos incêndios, isto sempre que a Direcção autoriza, porque os assalariados dependem dela. Nessas situações, como no contrato de trabalho é ilegal, o indivíduo pica o ponto e está no incêndio, é claro que se estiver fora não pode passar pelo controlo de presença, mas se estiver com o conhecimento da Direcção, nós descontamos as 8 horas de serviço, que devia ter dado à corporação, dos 45 euros, que é aquilo que é legal", explica o responsável.
Para João José Muacho estes são casos "pontuais" e que sucedem pelo pouco número de elementos com carta de pesados, portanto, se não houvesse este trâmite legal todos solicitavam integrar as ECINs. "Pediam para não ter férias, descontando no ordenado, para fazer os incêndios e o serviço de ambulâncias parava porque toda a corporação se encontrava nessas equipas de combate aos fogos", exemplifica João José Muacho.
Os Bombeiros Voluntários de Campo Maior contam com cerca de 35 elementos no quadro activo e cumprem 68 anos de fundação no final de Outubro.
Linhas de Elvas/Pedro Trindade Sena"

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