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Se receber "toques" de números internacionais desconhecidos, não atenda nem retribua a chamada, são “caso de polícia”, considera a Anacom

Foto: quiosquedigital.pt

Nas últimas semanas, têm sido vários os relatos nas redes sociais de pessoas que dizem estar a receber chamadas internacionais que mais não são do que um esquema de ciberfraude. O Expresso falou com o organismo que regula as comunicações nacionais, que diz que estamos perante “um caso de polícia”.

Tudo começa quando uma pessoa recebe uma ou mais chamadas internacionais de números desconhecidos. Atenção que não estamos a falar de uma chamada propriamente dita. Neste caso não há sequer tempo para atender o telefone. É mais um ‘toque’.
Quem faz a chamada liga, deixa tocar uma única vez e nem sempre um toque por completo, e desliga de imediato, não dando tempo a quem está do outro lado para atender. Importa apenas que o número fique registado no ecrã. Simples, não é? Não.
Quem quer que tente devolver essa chamada – porque é impossível atender o telefone quando esses números nos ligam – fica automaticamente “dentro” da rede de quem faz este tipo de "ataques".
Os problemas chegam verdadeiramente quando, meses mais tarde, começam a aparecer contas de telefone absurdas, com valores altíssimos. O dito esquema não é novo, mas parece continuar a dar resultado. O “Dinheiro Vivo” explica tudo ao pormenor.
Questionada sobre este assunto, a Autoridade Nacional das Comunicações (Anacom) diz estar-se “perante uma tentativa de fraude, que configura um caso de polícia”. A recomendação do regulador é simples: “O que dizemos às pessoas é para não devolverem chamadas de números desconhecidos”, diz ao Expresso uma assessora da Anacom.
Vejamos o exemplo de uma das pessoas que recebeu uma destas chamadas, que sob anonimato contou o seu caso ao Expresso. O número de telefone em questão era o +688 016 402 e apareceu identificado como Tuvalu. Conhecedora da manha, ao perceber que recebera uma dessas chamadas, a pessoa em causa deixou um post na página de Facebook da NOS e tentou contactar, sem sucesso, o serviço de apoio ao cliente.
Passaram mais de 24 horas até que este cliente conseguisse finalmente explicar o problema a quem de direito na NOS. Foi-lhe garantido que alguém da operadora o voltaria a contactar com mais informação sobre o assunto, mas essa chamada chegou apenas uma semana depois.
Via Facebook, a NOS foi pronta a responder: “Olá xxxxxxxx, respondemos à mensagem privada que nos enviou. Obrigada, Sara.”
Pelo tipo de resposta e pela hora a que a mesma foi dada, este cliente “suspeita” que a NOS esteja a utilizar os chatbots do Facebook Messenger. Softwares que funcionam dentro das apps de mensagens e que respondem com base em regras ou inteligência artificial. A maioria das grandes marcas já usa este tipo de serviço, como de resto pode ver-se neste artigo.
A operadora remeteu o assunto para o campo das mensagens privadas, o que é de resto uma política comum a todas as grandes marcas e uma das regras na era das redes sociais e das compras online. Evitar sempre as reclamações em “praça pública” e “puxar” o cliente para o campo das mensagens privadas. A cada reclamação do cliente, as respostas da NOS eram “curtas e pouco explícitas”.
Revoltado com a “falta de interesse” da empresa num caso em que diz ter procurado apenas “alertar para um problema grave e que pode provocar perdas de milhões de euros” a clientes incautos – a British Telecom teve prejuízos recentes de milhões de libras com um esquema semelhante –, o queixoso resolveu cancelar o contrato por "não confiar numa empresa que não parece minimamente preocupada com a segurança dos clientes”, num caso que considera ser passível de uma rescisão por justa causa.
O Expresso procurou obter respostas junto da NOS, tentando saber como justificava a falta de preocupação com a segurança dos clientes de que eraacusada; quantas situações deste tipo foram reportadas à empresa nos últimos 24 meses; qual a política da operadora relativamente às redes sociais e às queixas, denúncias e reclamações feitas nestas plataformas; e se há algum procedimento específico para alertar estes clientes.
A resposta chegou no próprio dia em formato de declaração: “A NOS analisa e trata todas as reclamações e questões que lhe são apresentadas pelos seus clientes, independentemente do canal de entrada das mesmas, o que acontecerá também no caso concreto, sendo que, tratando-se de uma alegada situação de fraude, a mesma será cuidadosamente analisada por forma a acautelar os interesses do cliente e da própria empresa.”
Contudo, este tipo de casos não se verifica apenas na NOS. Carlos de Sá, cliente da UZO, recebeu esta semana uma chamada fraudulenta, de um número aparentemente suíço, onde tem uma irmã a viver há algum tempo. Confirmou com a irmã que esta não lhe tinha ligado, mas não ligou para a operadora para comunicar o sucedido.
Há igualmente relatos de chamadas idênticas para números da Vodafone e da Meo.
Contactada pelo Expresso, a DECO confirma conhecer o caso mas ainda não recebeu qualquer queixa de problemas associados com estas chamadas.

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