Apontamento sobre a Freguesia de Terrugem (Elvas)
Por ser a minha terra natal, não podia aqui faltar uma referência histórica a esta linda Freguesia alentejana do concelho de Elvas. O texto que se segue, é da minha autoria, publicado no Caderno Cultural nº 6, intitulado "Freguesias Rurais do Concelho de Elvas", publicado em 1992 pela Câmara Municipal de Elvas. Documentos dos Séculos XV, XVI e XVII permitem-nos saber que o nome primitivo desta freguesia era TARRUJA, que tem uma área de 72,7 Km² e conta com uma população de cerca de 1300 habitantes. Por outro lado, nas suas Memórias de Vila Viçosa, o Padre Espanca diz que o nome Terrugem provém do latim «THURINGIA». Em documentos antigos aparece o nome desta freguesia com as seguintes grafias: Taruja, Tarruja, Tarrugem, Terruge e Terrugem. Derivado dela é muito natural ser o apelido de Torrujo que aparece na região nos séculos passados. Em apontamentos inéditos de Vitorino de Almada, pode ler-se: «Duma memória da família Macedo Soutomaior vemos que das Astúrias veio João Foreiro com quatro irmãos, no tempo de D. Afonso Henriques, não sendo ainda rei, os quais expulsaram os Mouros de S. Romão e Fatalão, termo de Vila Viçosa; e da Terrugem, termo de Elvas; de que eles e seus descendentes ficaram senhores». Os mais antigos registos paroquiais da Terrugem remontam a 1603. Em 1628 foi tornada freguesia e aldeia em 1777, ficando anexa à Câmara de Vila Boim. Invocando Santo António, a sua igreja paroquial remonta ao Séc. XVIII, com o pórtico de mármore no qual se inserem um pequeno frontão e duas mísulas.
Foi reconstruída no Séc. XVIII e ampliada como actualmente se encontra, tendo sido melhorada por iniciativa do Sr. Capitão Manuel Rodrigues Carpinteiro, durante o tempo da sua presidência da Câmara de Elvas, estando muito bem cuidada, com o seu portado em mármore, de verga direita, abóbada de berço, chão de mármore e torre sineira com três sinos. Como curiosidade, refira-se que no interior do templo existe um tapete de Arraiolos do Séc. XVIII e uma lanterna com pé de barrinha de ferro, batido e dourado.
Terra de gente laboriosa, a Terrugem é também uma freguesia de artesãos. Os trabalhos ali executados têm por base o vime, a cortiça e principalmente as peles. O artesanato serve também de suporte a um pequeno Museu, instalado na antiga Casa do Povo, onde se contam ainda algumas peças pré-históricas encontradas na freguesia. Conforme já disse-mos atrás, a industria hoteleira tem também uma forte implantação na Terrugem, o que até nem será de estranhar, já que é rico e variado o lote de especialidades gastronómicas que têm «escola» na freguesia: desde a sopa de tomate e a açorda até às azevias, filhozes e bolos fintos, passando pelo ensopado de borrego e pelos grãos com enchidos, a Terrugem é um «mundo» de pratos saborosos, que fazem as delícias de qualquer um. Toda esta riqueza gastronómica pode ser encontrada nos restaurantes da freguesia e, principalmente no complexo turístico ali existente, «A Bolota», com piscinas e court de ténis.
Para além de ser um pólo gerador de emprego, este complexo é também um atractivo turístico da região, em conjunto com a grande riqueza cinegética existente. Com Santo António como padroeiro, a Terrugem tem as suas festas anuais em Agosto e o Natal e a Páscoa são outras épocas festivamente assinaladas nesta localidade. No Natal é frequente encontrarmos grupos de pessoas entoando pelas ruas da freguesia, os cânticos tradicionais de natal, acompanhados pelos originais sons da ronca, que é feita a partir de um cântaro ou pote de barro, com uma pele de bexiga de porco por cima, furada por uma cana. Na Páscoa, na Terrugem, celebra-se ainda um antigo ritual religioso, «as aleluias», que festejam e celebram a ressuscitação de Jesus Cristo. Quando bate a meia-noite do Sábado de Aleluias, tocam-se os chocalhos, percorrem-se as ruas em autêntica explosão de júbilo, num esforço que é compensado pela oferta de vários géneros, como bebidas e comida, a todos quantos participam na festa. «Encostada» à Estrada Nacional N.º 4, a Terrugem é talvez a freguesia rural do concelho de Elvas com maior índice de desenvolvimento nestes últimos anos. Embora o sector agrícola desempenhe um papel fundamental para a economia da localidade, as indústrias de cortumes e hotelaria marcam também presença de destaque.
Quem não ouviu já falar das «peles» da Terrugem e não viu as peças de vestuário ali fabricadas, com base nas peles de ovino e bovino?! Esta freguesia é hoje procurada, até pelos nossos vizinhos espanhóis, pela qualidade dos seus produtos, não sendo exagero afirmar que esta é uma das actividades principais, senão a principal, de suporte das gentes da Terrugem. Se nos últimos tempos a construção de habitações se tem vindo a multiplicar em quantidade e variedade, devido também a um significativo número de profissionais da construção civil que ali residem, a verdade é que a casa-padrão continua a ser a de rés-do-chão, com lareira, antigamente em pedra e cal e hoje tijolo furado e cimento, mantendo-se fiel à tradicional traça tipicamente alentejana. A população desta freguesia, já deu provas da sua vontade e capacidade de, em conjunto, construir as suas próprias condições. A ABAT – Associação de Beneficência Amigos da Terrugem, é uma organização que se fundou com esse propósito, e conseguiu já edificar um centro de dia e lar para a terceira idade com o apoio domiciliário, um infantário e uma praça de touros. Esta Associação desempenha hoje um papel importante na freguesia, no que diz respeito ao bem-estar social, através das suas creches e centros de dia. Mas a população da Terrugem conta também com outras colectividades que se dedicam principalmente a desenvolver actividades desportivas e recreativas, elementos essenciais na vida desta gente, e que a par de outras, contribuem para o crescimento da freguesia.
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