Memórias de Rui Nabeiro transpostas para o novo romance do escritor José Luís Peixoto

O escritor José Luís Peixoto mergulhou nas memórias de vida do empresário Rui Nabeiro e apoderou-se delas, fazendo-as suas e transpondo-as para o papel, num romance situado no futuro com um olhar para o passado, intitulado “Almoço de domingo”.
“Almoço de domingo” é o título, e será publicado pela Quetzal no dia 25, “sobe um degrau”, porque a personagem retratada “ainda está aí”, disse o escritor em entrevista à Agência Lusa.
Segundo o escritor, trata-se da história de um “homem de 90 anos, que olha para o seu passado e faz um balanço de vida a partir de episódios significativos da sua história pessoal, que em muitos aspetos tocam a do próprio país, mas tem esse outro lado que para mim foi muito desafiante que é o facto de ter como referência a história de Rui Nabeiro”, contou o escritor.
Contudo, a pessoa é subentendida na leitura do texto, pelo percurso que segue, pelo império que cria, pela geografia e pela família em que se insere, a partir das quais tudo parte, porque o sobrenome Nabeiro nunca aparece no texto.
Escritor José Luís Peixoto
José Luís Peixoto explica porquê: “do ponto de vista do texto, é um romance e como romance é um exemplo, a personagem é uma personagem, não é um texto histórico não é um texto biográfico”.
Os factos estão lá, mas para quem lê o texto é um aspeto que pode ser considerado ou não, não é essencial, porque trata-se de um “texto romanesco”.
A história deste romance começou em 2019, quando o empresário Rui Nabeiro assistiu a umas entrevistas de José Luís Peixoto, que ainda não conhecia pessoalmente, e lhe propôs a escrita da sua biografia.
Para o escritor, não era interessante a ideia de escrever uma biografia, por ser um texto completamente diferente do romance, e então fez uma contraproposta: escrever um romance que tomasse como ponto de partida essa experiência.
“Há uma oportunidade de dispor de um património de experiência e de vida, por um lado a vida de uma pessoa de 90 anos, a riqueza de privar com uma pessoa dessa idade com alguma realidade e com disponibilidade de partilhar memórias, acrescido de toda a especificidade da sua história, que é incrível”.
Rui Nabeiro nasceu numa família humilde, começou a trabalhar cedo a ajudar o pai e os tios na torra do café, e acabou por construir um império familiar que envolve negócios de café, azeite e vinho.
Conforme refere a Lusa, o livro está estruturado em três partes, cada uma delas é um dia e esses dias estão no futuro, embora no livro sejam o presente. São os dias 26, 27 e 28 de março de 2021, que é o dia em que o Rui Nabeiro real e o ficcional fazem 90 anos. Esse dia é domingo, daí esse “almoço de domingo” que é o titulo do livro e vai ser o momento em que tudo se cruza, num “final bastante apoteótico”.
Ao longo do romance as memórias vão compondo um todo narrativo, onde estas memórias se encaixam.
O romance de José Luís Peixoto, para além das memórias que tocam a vida pública e os momentos históricos, toca a memória da família e da sua terra natal.
Há uma frase no início do livro que marca o ritmo da história toda: “O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido”.

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