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Opinião: CAMPO MAIOR, PRAÇA D’ARMAS, NO SÉCULO XIX ..., por Francisco Galego


Campo Maior é uma vila antiquíssima da província do Alentejo e, ao mesmo tempo, praça d’armas. Está situada a três léguas ao norte de Elvas, entre as ribeiras do Caia e do Xévora a outras três a oeste de Badajoz, ainda a três léguas a sul d’Albuquerque e a quatro léguas de Arronches.
O terreno onde assenta a povoação alteia ao sul, abaixa para leste e oeste e ergue-se um pouco ao norte. Sobranceiro a todos os lados da vila, na extremidade sul, eleva-se um castelo vistoso e imponente.
Respectivamente às cercanias, a praça é baixa e dominada por muitos cerros a leste e norte, à distância de dois mil metros, o que contribui para tornar a sua defesa difícil e perigosa[1].
O castelo, segundo Ayres Varela, é obra muito antiga e forte, tanto pela situação em que se acha, como pelas muralhas que o formam. (...) Está situado na parte mais alta da povoação, ao sul, com quatro torres pequenas e uma grande. Há nele duas portas: uma para norte e outra para o sul. El-rei D. Manuel mandou construir um muro desde o castelo até S. Sebastião, muro que, com as torres antes referidas, ficou incluído numa nova fortificação, servindo de cortina aos baluartes de Lisboa e de S. Sebastião e, entre estes, está a porta da vila ou de Santa Maria. Depois foi construída outra fortificação que guardava toda a vila velha, com duas portas.
Uma nova fortificação foi começada por D. João IV e continuada, sem ser acabada, por D. Afonso VI e D. João V, a qual tem os baluartes de S. João e de Santa Cruz, entre os quais o fosso era cheio de água e assim se conservava todo o ano, sendo alimentado pelos ribeiros da Fonte Nova e do Laguinho. Ao baluarte de Santa Cruz segue-se uma grande cortina, no remate da qual fica, a cavaleiro[2], um meio baluarte chamado do Curral dos Coelhos. A estes seguem-se os baluartes de Lisboa e  de S. Sebastião, depois o baluarte da Boa Vista, o meio-baluatrte da Rosa[3], o baluarte de S. Francisco, o da Fonte do Concelho e ainda outro[4] cuja cortina fecha a Praça, no baluarte de S. João e na qual está a porta principal, denominada de S. Pedro[5].
A praça tem excelentes fossos, bastantes esplanadas e, em algumas partes, contra-escapas. Tem seis revelins, e dois fortes, sendo o primeiro o de S. João[6], para o nascente, e o outro, o do Cachimbo[7], para o meio-dia. (...)
Por estarem as muralhas de Campo Maior bastante deterioradas, foram-lhe feitas algumas reparações em 1796.
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Texto copiado, com algumas actualizações e anotações, da obra de Pedro Manuel Tavares, (Major d’Artilharia), Estudos Histórico-Militares, Defensa de Campo Maior em 1801, Publicada em Elvas, em 1890.   
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[1] Foi sempre apontado à praça d’armas de Campo Maior, como principal defeito, o estar rodeada destes montes que os militares designavam como padrastos (Santa Vitória; Alto da Charrua, Carrascal, Cabeça Aguda...) que se podiam tornar perigosos quando acupados pela artilharia dos exércitos sitiantes.
[2] Ficar “a cavaleiro”, ou seja, “sotoposto” ou sobrelevado, acima de...
[3] Baluarte de Santa Rosa.
[4] Chamado baluarte do Príncipe.
[5] Demolida em 1908, ficava ao fundo do tramo de rua onde se situa a CURPI, dando para o Largo da Carreira, por aí chegar a diligência do transporte público que vinha de Elvas e que foi depois chamado largo dos Carvajais. Durante algum tempo, esta Porta de S. Pedro, foi chamada Porta Nova, dando assim a ideia que foi construída bastante depois da Porta de Santa Maria, também designada com Porta da Vila .
[6] No local onde foi construido o Estádio Capitão César Correia. Era popularmente designado como "Forte das Pesetas".
[7] Ainda é visível no lado esquerdo da estrada para Elvas, antes do desvio para a estrada da Barragem. Era um elemento de defesa da Porta de Santa Maria.

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