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Opinião: O CERCO DE 1801, por Francisco Galego


Na manhã 20 de Maio de 1801, apareceu por alturas da Cabeça Aguda a Quarta Divisão do exército espanhol que formou o sítio da Praça.[1]
A guarnição que se tinha preparado para resistir, ofereceu uma resistência porfiada durante 18 dias, sob o comando de Matias Azedo. Mas teve que se render porque dependia de Campo maior a tranquilidade do Alentejo e do Reino, uma vez que, enquanto esta praça resistisse, não cessavam nem se ultimavam as negociações de paz em Badajoz. Por outro lado, as forças sitiantes eram poderosas. Tinham submetido a Praça e a vila a forte fogo cruzado, colocando as suas baterias em pontos estratégicos:
- a 1ª na Cabeça Aguda entre o Nascente  e o Sul;
- a 2ª na Senhora da Saúde, a Nascente;
- a 3ª no Carrascal, a Norte;
- a 4ª e a 5ª a S. Pedro, Nordeste.
Após a rendição, a vila ficou ocupada pelos espanhóis, quase meio ano, tendo sido por eles evacuada no dia 22 de Novembro de 1801, data em que o comandante militar entregou as chaves a D. José Carvajal que delas tomou posse em nome do governo de Portugal e que ficou interinamente no governo da Praça até ao dia 8 de Dezembro de 1801, que foi quando o coronel Francisco da Fonseca Mexia, entrou nela com o seu regimento.
Não se descuidaram os moradores de Campo Maior de reparem as ruínas (provocadas pela 8.342 balas de canhão, 257 bombas e 1.217 granadas que caíram sobre a povoação): as suas casas foram em breve habitáveis. Mas a reparação não foi geral: São ainda hoje visíveis sinais de destruição na Igreja Matriz, no Convento dos Frades de São Francisco, nas Casas da Câmara e em alguns outros edifícios.
A Fortificação não foi prontamente reparada, nem era de esperar que, por longo tempo, o fosse. Porque em conformidade com o juízo que dela fizeram os inspectores encarregados de avaliar as suas capacidades de defesa em relação com o local em que estava posicionada e em relação à Campanha que a envolve.
Na sequência das inspecções que lhe fizeram, foi Campo Maior desguarnecida de artilharias, as suas portas ficaram sem pontes levadiças e as suas muralhas arruinadas pois dois grandes pedaços tinham sido derrubados pela artilharia inimiga, um entre os baluartes de São Francisco e de Santa Rosa e, no baluarte de São Sebastião o lado voltado para Ocidente.

NOTA 1:. No ano de 1806, quando na tarde do dia 14 de Abril de 1806, Sua Alteza Real o Príncipe D. João, Regente destes Reinos entrou em Campo Maior, foi testemunha ocular desta situação e ouviu a expressão dos ardentes desejos dos moradores da vila para que estes estragos fossem reparados.
Que diversa impressão não teria feito em seu coração esta visita se pudesse prever que a mesma seria uma despedida?

NOTA 2: Em 27 de Novembro de 1807 embarcou, para se retirar para o Brasil, a família real; em 29 largou do porto, tendo já entrado em Lisboa os franceses.

(João Mariano de Nª Sr.ª do Carmo Fonseca. In, Memória histórica da Junta de Campo-Maior ou História da revolução desta leal e valorosa villa, (Ed. António José de Torres de Carvalho, Elvas, 1912.

                                                                            
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[1] Napoleão Bonaparte que assuimira o poder em 1799, como 1º Cônsul da República Francesa, decretou o Bloqueio Continental para impedir o acesso dos navios ingleses aos portos dos países da Europa. Manuel de Godoy que assumira um lugar preponderante na condução política do reino de Espanha, aliou-se a Napoleão Bonaparte. Portugal, sendo aliado da Inglaterra, não cumpriu a decisão tomada por Napoleão. Este cerco aconteceu no contexto da chamada Guerra das Laranjas. Tratou-se, portanto, de uma invasão para a conquista e submissão do reino de Portugal.

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